terça-feira, 21 de dezembro de 2010

normalidades

Mas então, o que seria o normal?

Algo de acordo com a norma, com a regra; comum; que é como os outros.

Como definir padrão comportamental, psicológico ou morfológico de uma pessoa a partir da qualificação – normal – se não há regras imutáveis para a formação de tais aspectos?

Um ser humano possui suas qualidades físicas definidas a partir de um seqüencial genético e adaptativo, e sua estruturação comportamental e psicológica por absorção de informações do meio em que vive.

Porém é óbvio que experiências são únicas e a capacidade de absorver informações em um dado momento é pessoal. Dois indivíduos reagem de forma diferente ao se depararem com a mesma situação, pois os pontos de vista são diferentes.

A definição do normal torna-se complicada ao analisarmos o homem, então, a fim de resolver esse problema, cria-se um campo de flexibilidade em cima das “regras” que ditam a sociedade. Um ser humano que se aproxima da linha aceitável de normalidade é tido como normal.

A tal linha aceitável de normalidade é um parâmetro subjetivo e variável, pois é definida a partir de julgamentos de um alguém que, por sua vez, não os faz taxados em regras, e sim em opiniões.

Sendo assim, a qualificação – normal – torna-se passível de discórdia uma vez que os parâmetros para tal são no mínimo questionáveis.

Então, por definição, uma pessoa normal não existe.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu vejo

Vejo sua sombra entre a multidão.
Sinto o seu cheiro, você está por perto... eu sei.

Ouço seu choro toda noite. A freqüência está aumentando.
Percebo sua dificuldade de respirar mas sei que não dará o braço a torcer.
Quero ver dentro de seus olhos novamente.

Não se esconda.

Apareça.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A viagem

Estava cansado, muito cansado. Deitei para tentar reduzir meu batimento cardíaco, para tentar reduzir a velocidade dos meus pensamentos.
Fui me acalmando e conseguindo finalmente um pequeno instante de paz.
Lembrei de meu pai, que viajaria no dia seguinte. Não sei por quê. Na hora não pensava em nada, e me veio essa lembrança.
De repente senti uma dor no peito como a de um punhal atravessando meu pulmão, e me vi em uma estrada em pé no meio do nada. Não consegui ver de onde a estrada vinha e nem para onde ia, mas pude ver meu pai passando de carro e um cão extremamente agressivo mordendo o pneu do carro, rasgando o mesmo com tamanha facilidade, e o carro capotando várias vezes.
Me assustei e me vi novamente dentro do meu quarto sem saber o que havia acabado de acontecer.
Pedi novamente ajuda para a Luz mas me perdi novamente com um grito demoníaco estalado em meus ouvidos.
Me vi novamente na estrada, mas agora com o cão em pé na minha frente.
Temi, mas mesmo assim olhei dentro dos olhos dele quando se aproximava lentamente como a anteceder um ataque. Seus olhos vermelhos minavam ódio. Escorria sangue negro de sua boca. Ao chegar mais perto de mim reparei que a besta era quase o dobro do meu tamanho e que estava prestes a me destruir.
Abaixou um pouco olhando dentro dos meus olhos e perguntou: Quem é você que tenta me atrapalhar?
Não conseguia me mexer, estava parado sem reação, com a certeza clara da morte, mas mesmo assim respondi - sou o filho, e você não vai fazer mais nada a partir de agora.
O demônio urrou com grande força e o ódio exalado foi ainda maior. Veio em minha direção mas não tocou em um fio de cabelo meu. Parecia que algo o impedia como se houvesse um campo de proteção ao meu redor. Chamei a Luz novamente e isso o fez ficar ainda mais agitado. Urrou e ensaiou investidas contra mim, mas logo depois se virou e se pôs novamente em quatro patas e entrou em direção à escuridão.
Logo em seguida me vi novamente dentro do quarto. Vi imagens em minha mente do que acabara de acontecer.
Depois disso foi ainda mais difícil acalmar meus pensamentos e ter paz novamente.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

faces e mundos, faces imundas

corro atrás dos ventos
tentando pegar algo que não se pode tocar
maldito vento que, quando chego
torna-se apenas ar
me perco entre giros e quedas
meu nariz está sangrando
estou cansado de correr
preciso de uma dose de algo que tape meus olhos
preciso de um lugar para urinar
corro atrás dos ventos
que se dane
preciso parar de enxergar
assim conseguirei ir com todos
ainda não consegui organizar os fatos
ainda não consegui coordenar meus mundos
ainda não encontrei meu lugar
não é aqui
e não é em qualquer outro lugar

sábado, 6 de novembro de 2010

Questão 1:

- Você é louco?

- Bem, não quero que você tenha essa impressão a meu respeito. Não sou louco. Verdade é que já vivi além, que andei por mundos desconhecidos, que vi e ouvi a respeito de coisas passadas, e que presenciei coisas futuras.

Sou louco? Não. Os loucos vivem em outros mundos. Eu já visitei outros mundos, mas não vivo neles. É diferente.

Minha vida. Preciso rever minha vida. Arrumar as coisas, fazer as malas. Preciso partir.

Não vou me aproximar. Vou fugir. Esconder é o que faço melhor. Não quero aproximar. Vou ficar oculto, observando.

Não poderia ser louco. Perderia você. Tenho que me controlar. Tenho que coordenar minha mente para não perder você.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu quero sempre mais

A minha vida Eu preciso mudar Todo dia
Prá escapar Da rotina Dos meus desejos
Por seus beijos...

E os meus sonhos Eu procuro acordar
E perseguir meus sonhos..

Mas a realidade Que vem depois
Não é bem aquela Que planejei...

Eu quero sempre mais!... De ti!

Por isso hoje Estou tão triste
Por que querer está Tão longe de poder?

E quem eu quero Está tão longe
Longe de mim...

Longe de mim!

sábado, 16 de outubro de 2010

Histórias sempre se repetem

De forma inesperada e irreparável se mostrou.
De forma curta e esquecível se escondeu.
Nesse tempo, desenhou um mundo passível de amor ou desprezo,
e tivemos que criar nossas guerras para destruirmos o que estava construído.

Um se importa, somente um. E, sabendo, Ele quis mudar meu caminho.
Com um sopro desfez as trilhas que eu seguia, e me cegou.

Guardei coisas descartáveis. Embrulhei bem momentos perecíveis.
Sou um cego, um viajante, sou um que ainda restou.
Vivenciei dez mil anos passados e ainda sou novo. Eu, somente eu.
Morro. E quando penso que não, volto à vida. Sempre, a cada dia.

Busca insana para achar o que todos temem encontrar. Outros caminhos
surgem sob meus pés. Busco achar o caminho d'Ele. Um cego tentando ver.






terça-feira, 5 de outubro de 2010

os que se aprisionaram

Certa vez encontrei uma pessoa que, pelo tempo, distância e por culpa de nós mesmos, havíamos nos perdido. Essa pessoa não era mais como antes. Senti seu perfume, ouvi sua voz, mas não era a mesma que eu conhecia.

Não havia o mesmo brilho nos olhos, não havia o mesmo sorriso no rosto. Perdera sua espontaneidade. Não possuía mais sua bela insanidade.

Perguntei o que havia ocorrido e, antes de ter a resposta, percebi as marcas de grilhões em seus punhos e canelas. Vi várias cicatrizes redesenhando suas costas. Vi a exaustão em seus ombros.

Lembrei de casos semelhantes ocorridos naquela cidade. Não havia escravos, pois os grilhões estavam destrancados. Não havia maus-tratos, pois os senhores já estavam mortos.

Por que está assim? Perguntei novamente. Onde estão seus amigos? Por que andas sozinha?

Meus amigos não pagam minhas dívidas. – respondeu.

E, encerrando a fala, virou-se e retornou ao seu caminhar em direção às novas penitências.

Dizem que é assim a vida dos que venderam a alma: acordam, buscam dívidas pela manhã, pagam as dívidas a tarde, e dormem. Acordam no dia seguinte e novamente buscam dívidas pela manhã, pagam as dívidas a tarde, e dormem. E assim é dia após dia.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Por Você

Por Você Eu dançaria tango no teto
Eu limparia Os trilhos do metrô
Eu iria a pé Do Rio à Salvador...

Eu aceitaria A vida como ela é
Viajaria a prazo Pro inferno
Eu tomaria banho gelado No inverno...

Por Você! Eu deixaria de beber
Por Você! Eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia Prá virar burguês...

Eu mudaria Até o meu nome
Eu viveria Em greve de fome
Desejaria todo o dia A mesma mulher...

Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!

Por Você! Conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu De vermelho
Eu teria mais herdeiros Que um coelho..

Por Você! Por Você!
Por Você! Por Você!...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

desprezível atuação

desprezível atuação em uma peça mal ensaiada.

fui liberto do contrato, e o fim está mais próximo agora.

fiz o que foi pedido e agora estou em paz.

decidi não ser como era antes.

e se algum dia decidir ser como antes, mudo novamente.

abri a porta e já vi a estrada construída para mim.

a boa e velha estrada para o lado de lá!

Leio o jornal. Vejo a cara da cidade.

Sinto cheiro de vômito. Sinto as patas dos insetos.

Uma bebida, um cigarro. Braços cruzados, barulhos externos.

Já confirmei minha passagem. Agora resta aguardar...


... continua algum dia.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A Maldição


Certa vez encontrei um homem, aparentemente velho, muito sujo, maltrapilho, impregnado de mal odor, levando um semblante abatido, porém, com um estranho brilho nos olhos, como de olhos carregados de esperança. Insana esperança. Sentei-me ao lado do homem. Não entendi minha atitude, mas estranhamente não consegui iniciar outra ação. Não consegui seguir sem ter com o velho. E, sem eu perguntar algo, ou iniciar um diálogo, sem ao menos demonstrar interesse em estar lá, aquele senhor contou uma história que dizia assim:

houve, há muitos anos atrás, um homem amaldiçoado pelos Seres Ocultos. Sua maldição foi pronunciada e comentada nos quatro cantos da Terra por lábios estúpidos e inconseqüentes que mal sabiam o real juízo e cruel tormento.
Tal homem foi fadado à não-morte, cegado para não encontrar seu destino. Fadado a caminhar sem rumo à procura de seu destino, sem saber que, por mais que andasse e quanto mais procurasse, mais distante ficaria do mesmo. E assim seguiria por toda eternidade, amaldiçoado a procurar.
Riram desse homem, riram da mediocridade de sua vida. Zombaram por não desistir de algo que, na realidade, jamais alcançaria. Riram sem saber do peso de tal maldição. Riram por não se importarem com o próprio destino.
Este homem consumiu toda sua mente e encheu seu coração com todo fervor em não desistir de seu objetivo. Não sabendo ele que isso seria sua real maldição.
- Por que não desiste de caminhar? Perguntavam.
- Por que não esquece tudo isso e abandona seu caminho? Indagavam discrentes em obterem respostas.
O homem apenas seguia. Sem perder o alvo. Sem parar. Sem voltar. Sonhando em, um dia, mesmo que por poucos segundos, encontre o que tanto sonha encontrar. Sonhando, sem deixar se abater pela dolorosa certeza de tudo ser apenas um sonho. Talvez seja essa sua verdadeira maldição.

O velho olhou para mim, iniciando um discreto sorriso. Olhou dentro dos meus olhos, deixando entender que, de forma estranha e assustadora, já me conhecia e conhecia meus pensamentos, e disse: Por que ainda tem esperanças? - risos - Por que ainda anda, maldito fadado a sonhar? - risos -

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

sou eu

Posso ser tudo, e posso ser nada.

sou seu refúgio;
sou seu medo.

sou o fracasso;
sou o vômito.

sou minha cura;
sou meu demônio.

sou a ira;
sou o impulso.

sou sua saudade;
sou seu desprezo.

sou o silêncio;
sou o adeus.

sou minha alegria;
sou meu tormento.

sou o que falta;
sou o que não vem.

Posso ser eu, e posso ser o outro eu.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

escritos


escrever o que?
escrever para quem?
escrever sobre o que?
escrever por quê?

contos perdidos, histórias encerradas,
conselhos irrelevantes...

escrever só para falar, quando o silêncio resolve?
gritar quando o fôlego não vem?

escever pra que, quando na verdade prefiro ler?

escrever por quê?
escrever sobre o que?
escrever para quem?
escrever o que?

escrever para não guardar,
escrever para ter guardado.

não. prefiro ler.

ler para relembrar.
ler para aprender.
ler para tentar alegrar.
ler para não esquecer.

sábado, 24 de julho de 2010

A Menina de Lá

A Menina de Lá - Primeiras Estórias - Guimarães Rosa


"... o que Nhinhinha falava, desejava, de súbito acontecia."
rsrsrs

as palavras nunca voltam.





terça-feira, 13 de julho de 2010

Sonho...

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas,
só as de verão.
No fundo isso não tem importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado." William Shakespeare

A possibilidade de sonhar vale a pena,
a possibilidade de realizar o mesmo vale a minha vida.

domingo, 11 de julho de 2010

Minha Alma

A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!...
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!...

As vezes eu falo com a vida,
As vezes é ela quem diz:

"Qual a paz que eu não quero conservar,
Prá tentar ser feliz?"

As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão

Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo, domingo!

Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido...
É pela paz que eu não quero seguir admitindo

É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir
É pela paz que eu não quero seguir admitindo

sábado, 26 de junho de 2010

A ida

- Papai... papai... a vovó está morta?
- Sim filho. Sua vovó foi morar com o Papai do Céu.
- Mas ela vai voltar?
- Não filho. Ela foi pra lá e agora vai descansar para sempre.

- ... Ela vai sentir dor?
- Não filho. A vovó vai ficar bem! Não se preocupe... ela vai ficar em paz!
- Mas e quando eu quiser ver a vovó de novo??
- Não filhão... a gente não vai ver a vovó de novo. Mas as lembranças dela vão ficar guardadinhas dentro do seu coração, para você ter a vovó com você em todo momento.

- ... Ela vai mesmo ficar bem?
- Vai sim, filho. Não se preocupe... você só tem 4 anos. Mais tarde vai entender melhor...!

...
...
- Papai... então também quero morrer!!!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

o cão

Já havia passado a virada da noite e eu caminhava por aquelas ruas desertas com mais tempo para aguçar minha percepção. Uma névoa tímida pedindo permissão para invadir a cidade. Ruas calçadas com pedras desalinhadas. Nessa hora da noite é fácil ouvir os gritos de dor vindo dessas pedras. O ar frio comprimia meu peito e, sem perceber, meus passos já se descreviam mais curtos e pesados. Me assustei com um cão ao meu lado. Um vira-lata de médio porte, de pêlos negros e extremamente magro. Estranho que, apesar do silêncio, não havia notado sua chegada. O cão, um tanto inquieto, caminhava ao meu lado implorando minha companhia. Olhava para todos os lados e se movimentava como se, a qualquer momento, necessitasse demonstrar rendição, se assustando com toda sombra e até mesmo com as folhas das árvores que se mexiam com o vento. Com um urro mal pronunciado tentei afastar o animal de perto de mim, mas percebi de forma estranha que naquela noite eu era o que demonstrava menor perigo a ele. Olhei nos olhos dele e não consegui entender. Os sem alma não ajudam muito nessas horas. Tentei descobrir o que o amedrontava tanto. Estávamos sozinhos, andando em direção à Cidade Baixa onde o frio era maior. Naquele lado da cidade os animais não emitiam som algum, nem mesmo os insetos noturnos, todos em absoluto silêncio. O frio já endurecia meus pés e pude perceber que meus passos estavam ainda mais pesados. Pouco mais a frente senti um forte vento assoprado de todas as direções. O maldito cão parou imediatamente de andar e forçou um choro comprimido abaixando sua cabeça sem olhar diretamente para mim. Nessa hora percebi o que o atormentava. Olhei para o cão e, quando me virei, vi o que o atormentava. Maldito cão-guia amaldiçoado a caminhar por essas ruas. Maldito cão-guia que me guiou até aqui. Maldito cão-guia, escravo morto.

domingo, 23 de maio de 2010

quando começaram a distorcer a história?

para que ter medo?
não seria louvável nos diferenciarmos dessa leva podre que só libera maus hodores?
não seria maravilhoso voar?
voar de bem alto, valorizando cada segundo?!
vejo que ainda não nos entendemos.
temos muito mais além disso tudo! temos nossa mente!
para que nos aprisionamos socialmente, aceitando obrigações e etiquetas impostas, ouvindo sermões de pessoas que não sabem falar?
para que calar e morrer por uma causa de outros?
temos muito tempo para voar!
cada segundo aproveitado! cada pensamento elevado!
e veremos muito além dos horizontes!
e ouviremos as vozes que hoje se abafam!
digo isso para que me odeie.
para que corra para longe de mim, porque não consigo aceitar o aprisionamento que querem oferecer.
me libertaram, e não quero outros grilhões.
digo isso para que me descarte, pois sei de suas opiniões.
veja como tudo isso nos impede de ver o que realmente deve ser visto!
veja como tudo nos impede de buscar as coisas que realmente precisam ser achadas!
sei que pensa igual a mim, mas ainda não é hora de dizer.
teria medo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

pensamentos descritos


considerando elementos físicos, estamos na superfície terrestre olhando para o céu; o céu é nada mais nada menos que gases; sendo assim, não possui estrutura física palpável; onde fica o fim do céu seria talvez onde começa a terra? estamos no céu? onde termina a terra e onde começa o céu? onde termina uma sombra? onde o vento começa seu trajeto? considerando a imensidão do mar, por que não povoarmos ele? considerando a velocidade de um raio, por que nos preocuparmos se ele virá? não o veremos quando ele nos matar. quem nunca sonhou em tocar no sol? quem nunca sonhou em cair em um buraco negro para ver o que tem do outro lado? quem nunca sonhou em ser imortal? quem nunca sonhou em ser letal? quem nunca tentou contar as estrelas? quem nunca tentou parar um fluxo d'água? por que falamos tanto? por que pensamos tanto? por que sentimos a necessidade de nomear tudo o que encontramos? para que tentar entender tudo o que vivenciamos? por que medimos? por que competimos? o céu é o limite, mas onde fica o céu?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

início ou fim

saudade de seu sorriso expontâneo, de sua calma insana, de sua pupila dilatada...!
saudade do tempo que as coisas aconteciam sem preocuparmos com o tempo que se vai.

bons tempos foram aqueles que riamos de nós mesmos, que desenhávamos nossos mundos.
bons tempos aqueles que cantarolávamos refrões de músicas passadas.

bom tempo esse que vivemos! bons climas esses que vivenciamos.

sonho em alcançar o infinito.
sonho em ser o impossível.
sonho em lhe dar o mundo, sonho em te fazer notar.

e que algum dia, mais para frente do tempo em que vivemos, possamos rir dessas palavras ditas, e lembrar das coisas que passamos por hoje.
e que algum dia você se lembre das coisas que eu disse.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

observação no canto da página


... descobri que ouvir "até daqui 15 dias" é mais assustador
quando se passam dois dias. Ainda faltam 13.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

parte de uma Metade

"Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço."

domingo, 11 de abril de 2010

Coisas que já sabemos


Como você disse, demoramos muito tempo para aprender o que já sabemos desde outras eras...

Demoramos muito tempo para perceber quantas cores há nas asas de uma borboleta; demoramos a perceber o som das folhas das árvores tocadas pelo vento; a paz sussurrada pelas águas de um rio.

Como você disse, demoramos muito tempo para perceber que o bem está em amar, e nada se desvia disso...

Demoramos muito tempo para perceber que as coisas poderiam ser mais fáceis do que são; que, ao machucar alguém, você mesmo se destrói; demoramos a perceber que não morreremos se deixarmos de pensar em nós mesmos 24 horas por dia.

Como você mesmo disse, demoramos muito tempo em tentar dar valor e contabilizar valores à nós mesmos...

Demoramos muito tempo nos vendo pequenos sem nos lembrar dos átomos; e nos vendo grandes sem nos lembrar do universo.

Como você já havia dito, poderíamos ser bem melhores se não fôssemos tão bons.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tente Outra Vez


Veja!
Não diga que a canção está perdida
Tenha em fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez!...
Beba! (Beba!)
Pois a água viva ainda tá na fonte
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou!
Não! Não! Não!...
Oh! Oh! Oh! Oh!
Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!
Não! Não! Não!...
Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que gira
(Gira!)
Bailando no ar
Uh! Uh! Uh!...
Queira! (Queira!)
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!
Humrum!...
Tente! (Tente!)
E não diga que a vitória está perdida
Se é de batalhas que se vive a vida
Han!
Tente outra vez!...

quarta-feira, 31 de março de 2010

os demônios jogam cartas

Certa vez vi a beleza. Discreta, simples porém imponente. Passei por ela tendo intenção de fazê-la me ver.
Um simples fato ocorrido em menos de um segundo eternizado em uma troca de olhar como a contar em uma eternidade. A beleza olhou pra mim, e sem intenção alguma, a parecer um simples descuido, deixou expostos os seus olhos e pude ver além de minha percepção. Vi sua alma.
Ali parada, serena, conversando com dois dos que se dizem mortais, olhou pra mim e me mostrou o vazio de sua alma. Tal visão horrorizou o mais frio e rude monstro.
Sai. Corri. Fui para bem longe. Longe onde o canto não chega, onde o vento não assopra. Me escondi atrás de uma partitura. Um adágio escrito para o mais triste e odioso instrumento.
Me vi finalizando a partitura quando, por acaso, me deparei com um borrão no alto de Si menor.
Esfreguei, raspei, tentei apagar. Quando consegui arrancar uma pequena parte do borrão, ouvi uma voz terrivelmente assustadora e raivosa dizendo - Não apague! - Assustado, caí por temor e me afastei da partitura. Foi quando vi o mestre caído, sentado em seu trono, carimbado em minha partitura. Em minha música.
Aterrorizado fechei os olhos e raspei com toda minha força tal mancha viva. E, como um livramento, fui lançado em outra dimensão, Na dimensão real onde todos os seres dormem e acordam, dentro de um quarto escuro.
Nesse quarto me vi completamente imobilizado. Um ser caído segurava minhas mãos, um ser caído me estrangulava, e um ser caído segurava minha língua.
Tentei pedir socorro mas não conseguia pronunciar as palavras vindas da Luz. Me sufocavam. Certo de não conseguir nenhuma outra ajuda, dei meu último fôlego a favor de uma palavra sussurrada. Chamei a Luz. Vi todos os seres e vi o que estava em meu quarto. Sim, era meu quarto. Vi a Luz rasgar a densa escuridão, e vi por mais uma vez eu, um imperdoável, escapar da morte dos eternos.
Quinze dias se passaram até acontecer tudo e ver novamente o olhar da beleza. Mas eu já tinha visto. Já conhecia os passos. Já cantava a música. Já havia sido alertado sobre a outra música que viria. Já havia sido alertado sobre o desprezo, e sobre a morte.
Ando sozinho. Me volto à velha promessa e me prendo em todos os mundos.
Sobreviverei sozinho.
Certa vez a fera viu a face da beleza, e a beleza acalmou a fera. Desde então a fera temeu a morte.
Certa vez a fera deixou de ver a face da beleza. Desde então a fera não temeu a morte.

quem vai chorar

defina bem quem vai chorar em seu velório
defina bem quantas flores terão em seu túmulo

sinta a pulsação que acelera a cada mentira dita a você
sinta o hálito podre exalado

veja dentro dos olhos de quem não consegue olhar pra você
veja as entrelinhas obscuras

não junte pessoas como se fossem farelos de pão caídos no chão
os farelos agarram nos sapatos e incomodam ao andar

respire, ande, tranze, cante
busque, mude, volte... morte

defina bem quem vai chorar em seu velório
defina bem quantas flores terão em seu túmulo