sexta-feira, 20 de agosto de 2010

desprezível atuação

desprezível atuação em uma peça mal ensaiada.

fui liberto do contrato, e o fim está mais próximo agora.

fiz o que foi pedido e agora estou em paz.

decidi não ser como era antes.

e se algum dia decidir ser como antes, mudo novamente.

abri a porta e já vi a estrada construída para mim.

a boa e velha estrada para o lado de lá!

Leio o jornal. Vejo a cara da cidade.

Sinto cheiro de vômito. Sinto as patas dos insetos.

Uma bebida, um cigarro. Braços cruzados, barulhos externos.

Já confirmei minha passagem. Agora resta aguardar...


... continua algum dia.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A Maldição


Certa vez encontrei um homem, aparentemente velho, muito sujo, maltrapilho, impregnado de mal odor, levando um semblante abatido, porém, com um estranho brilho nos olhos, como de olhos carregados de esperança. Insana esperança. Sentei-me ao lado do homem. Não entendi minha atitude, mas estranhamente não consegui iniciar outra ação. Não consegui seguir sem ter com o velho. E, sem eu perguntar algo, ou iniciar um diálogo, sem ao menos demonstrar interesse em estar lá, aquele senhor contou uma história que dizia assim:

houve, há muitos anos atrás, um homem amaldiçoado pelos Seres Ocultos. Sua maldição foi pronunciada e comentada nos quatro cantos da Terra por lábios estúpidos e inconseqüentes que mal sabiam o real juízo e cruel tormento.
Tal homem foi fadado à não-morte, cegado para não encontrar seu destino. Fadado a caminhar sem rumo à procura de seu destino, sem saber que, por mais que andasse e quanto mais procurasse, mais distante ficaria do mesmo. E assim seguiria por toda eternidade, amaldiçoado a procurar.
Riram desse homem, riram da mediocridade de sua vida. Zombaram por não desistir de algo que, na realidade, jamais alcançaria. Riram sem saber do peso de tal maldição. Riram por não se importarem com o próprio destino.
Este homem consumiu toda sua mente e encheu seu coração com todo fervor em não desistir de seu objetivo. Não sabendo ele que isso seria sua real maldição.
- Por que não desiste de caminhar? Perguntavam.
- Por que não esquece tudo isso e abandona seu caminho? Indagavam discrentes em obterem respostas.
O homem apenas seguia. Sem perder o alvo. Sem parar. Sem voltar. Sonhando em, um dia, mesmo que por poucos segundos, encontre o que tanto sonha encontrar. Sonhando, sem deixar se abater pela dolorosa certeza de tudo ser apenas um sonho. Talvez seja essa sua verdadeira maldição.

O velho olhou para mim, iniciando um discreto sorriso. Olhou dentro dos meus olhos, deixando entender que, de forma estranha e assustadora, já me conhecia e conhecia meus pensamentos, e disse: Por que ainda tem esperanças? - risos - Por que ainda anda, maldito fadado a sonhar? - risos -

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

sou eu

Posso ser tudo, e posso ser nada.

sou seu refúgio;
sou seu medo.

sou o fracasso;
sou o vômito.

sou minha cura;
sou meu demônio.

sou a ira;
sou o impulso.

sou sua saudade;
sou seu desprezo.

sou o silêncio;
sou o adeus.

sou minha alegria;
sou meu tormento.

sou o que falta;
sou o que não vem.

Posso ser eu, e posso ser o outro eu.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

escritos


escrever o que?
escrever para quem?
escrever sobre o que?
escrever por quê?

contos perdidos, histórias encerradas,
conselhos irrelevantes...

escrever só para falar, quando o silêncio resolve?
gritar quando o fôlego não vem?

escever pra que, quando na verdade prefiro ler?

escrever por quê?
escrever sobre o que?
escrever para quem?
escrever o que?

escrever para não guardar,
escrever para ter guardado.

não. prefiro ler.

ler para relembrar.
ler para aprender.
ler para tentar alegrar.
ler para não esquecer.