quinta-feira, 31 de março de 2011

O Bosque

Já estou conseguindo controlar melhor minha respiração. Não me sufoco mais quando entro nesse bosque. Mata fechada, árvores milenares dominando o entorno. Conheço muito bem esse lugar.

Todas as vezes que passo por esses lados ouço as músicas e os cantos. Acordes dedilhados em guitarras barrocas e assoprados em flautas de ébano. Sorrisos e refrões marcantes.

Insetos rodopiam ao redor das tochas de fogo. Animais peçonhentos agitados pelo calor. Maldita serpente que ainda procura meu ponto fraco.

Como é bom ficar aqui. Distante de tudo, participando de tudo. A música no bosque me trás paz. A dança e os sorrisos, tudo envolvendo como uma calma brisa. Recomponho minhas forças, minha energia.

É hora de sair. É hora de sobreviver novamente. É hora de esquecer cantos e sorrisos. Esquecer vidas passivas sub-protegidas no meio desse bosque. O cheiro de sangue, as pupilas dilatadas. O fôlego de vida novamente.

Ainda não achei o balcão de informações. Ainda corro dos insetos. Ainda ouço a outra música.

sábado, 19 de março de 2011

o vigilante

Como minha cabeça dói. Mal consigo enxergar... Maldita vista embaçada. Por que tenho dificuldades para respirar? O que aconteceu que fiquei assim...? Acho que dessa vez extrapolei um pouco. Gosto adocicado na boca. Parece sangue. Meu sangue.

Droga, meu coração voltou a acelerar. Concentre, conte os segundos, tente acalmar a respiração.

Tanta coisa eu já fiz, tantas situações que já passei. Mas agora isso. Aqui, andando com dificuldade sem conseguir chamar ajuda – que ajuda? -, tendo como inimigo meu próprio corpo.

Nessas horas que minha mente trabalha melhor – risos -. Vem como uma espada atravessando o peito, mostrando meus erros, mostrando minhas perdas. Sufocando-me, cuspindo no meu rosto, mostrando as pedras mal jogadas, as estratégias mal elaboradas. Mostrando minhas fraquezas.

Sigo pela noite, andando pelos telhados, seguindo seus passos à distância. Essa doença está começando a me prejudicar. Não tenho tanta rapidez como antes. Temo não ter forças quando precisar das mesmas. Temo não conseguir te proteger.

Sigo você como um cão protetor. Vejo você ali parada, sorrindo com as amigas, feliz. Fico distante para não ser visto, olhando ao redor, atento a tudo. Distraí minha mente, me perdi em seu sorriso. Senti minha alma em paz; desacostumada, ficando por instantes sem reconhecer o que é esse estado de espírito.

Proteção. Eu e minha mania de proteção.

Acabei me distanciando. Culpa da droga manipulada. Óbvio. Acabei vendo sua alegria e percebendo que minha presença não mais possuía valor. Vi minha fraqueza pisando em meu orgulho. Vi que não conseguia cuidar de você. Nunca soube se você queria mesmo meu cuidado ou se queria apenas minha companhia.

Todos nós temos inimigos, e o meu maior inimigo sou eu mesmo.

“A árvore quando está sendo cortada observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira” – ditado árabe.

domingo, 13 de março de 2011

sonho

Posso eu acrescentar um côvado à minha estatura?

Posso eu decidir como ser e ter a plena certeza dos atos?

Não me foi dado esse dom. Não posso falar como será o amanhã. Resta apenas sonhar, esse sim é um dom que me foi entregue.

Sonhar e buscar.

Como um louco querendo achar algo sem saber o que procurar.

Sonhar e buscar.

A certeza nos desmotiva. A incerteza abre caminho aos sonhos.

Um general jamais iria para a batalha se tivesse a certeza da derrota. E um general jamais iria para a batalha com o mesmo entusiasmo se tivesse a certeza da vitória. Não seria louvável.

Uma criança não aceitaria amadurecer se tivesse a certeza de jamais ser um astronauta ou piloto de corrida.

Todos nós sonhamos. Tirando os sonhos todos morrerão.

Sonhar e buscar.

E se ao fim disso tudo não alcançar o sonho, restará a alegria e glória de ter buscado de todas as formas o mesmo, tendo a convicção que ao menos buscou.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Balada do Louco - Mutantes

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz