terça-feira, 5 de outubro de 2010

os que se aprisionaram

Certa vez encontrei uma pessoa que, pelo tempo, distância e por culpa de nós mesmos, havíamos nos perdido. Essa pessoa não era mais como antes. Senti seu perfume, ouvi sua voz, mas não era a mesma que eu conhecia.

Não havia o mesmo brilho nos olhos, não havia o mesmo sorriso no rosto. Perdera sua espontaneidade. Não possuía mais sua bela insanidade.

Perguntei o que havia ocorrido e, antes de ter a resposta, percebi as marcas de grilhões em seus punhos e canelas. Vi várias cicatrizes redesenhando suas costas. Vi a exaustão em seus ombros.

Lembrei de casos semelhantes ocorridos naquela cidade. Não havia escravos, pois os grilhões estavam destrancados. Não havia maus-tratos, pois os senhores já estavam mortos.

Por que está assim? Perguntei novamente. Onde estão seus amigos? Por que andas sozinha?

Meus amigos não pagam minhas dívidas. – respondeu.

E, encerrando a fala, virou-se e retornou ao seu caminhar em direção às novas penitências.

Dizem que é assim a vida dos que venderam a alma: acordam, buscam dívidas pela manhã, pagam as dívidas a tarde, e dormem. Acordam no dia seguinte e novamente buscam dívidas pela manhã, pagam as dívidas a tarde, e dormem. E assim é dia após dia.

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