segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Festa

Saiu naquela noite, como de costume, por volta da virada da noite. Caminhou pela cidade a fim de saciar sua sede e tensão. Ao entrar naquela rua foi levado sem perceber a um portão que lhe chamou atenção.

De grades trabalhadas, pintura preta muito antiga já com décadas estampadas na ferrugem. Meio firme meio solto, havia perdido o chumbador superior e se postava apenas apoiado. Nada convidativo, pelo contrário, intimidava. Não o notaria se não fosse pela luz no interior daquela casa. Como a se parecer ornamentação, era extremamente elegante como a claridade da luz se entrelaçava pelas grades daquele portão.

Procurou pelo porteiro, mas não havia ninguém para atendê-lo. Entrou. Com cuidado passou e postou o portão novamente no lugar para que não acabasse de cair. Caminhando em direção a porta pode perceber que uma música começava a se fazer presente, porém um som muito baixo. Estranho, mas uma festa acontecia no interior daquela casa. Como um anfitrião não cuida da entrada da festa? Como manteve tão acabado o portão de entrada sem se importar? Não é de se saber que os convidados sempre entram pela passagem de maior beleza e requinte?

Ao entrar na casa deparou-se com um grande número de pessoas dançando ao som da música. A banda tocava mais ao fundo do salão, e no canto esquerdo havia uma mesa com o banquete posto. Muitos também se punham nos cantos dos ambientes, em casais, em grupos. Seria uma festa como outra qualquer se não fosse pela ausência de luz. Apenas a luz posta próximo ao portão, nenhuma outra luz.

Acendeu seu isqueiro para clarear o ambiente; não devia ter feito isso. A luz irritou todos da festa. Foi aí que pôde perceber a aparência dos que estavam naquela festa. Possuíam uma feição plástica, com boca, nariz e ouvidos tampados. Pele deformada deixando os olhos quase fechados. Olhos negros. Todos sangravam, e discretamente limpavam as feridas por todo corpo. Todos possuíam seus corpos lisos, sem pêlos, nem mesmo cabelo na cabeça. Viu, também, que o banquete estava podre. As taças quebradas. A banda não tocava seus instrumentos e nem cantava. Ficou intrigado em não saber como ele ainda conseguia ouvir a música.

Assustado voltou-se pela porta que acabara de entrar. Correu para a parte frontal da casa e passou pelo portão vendo se alguém o seguia. Na pressa puxou o portão com muita força e pôs-se para fora da casa deixando o portão caído no chão.

Ao chegar ao outro lado da rua olhou novamente para trás. Assustou-se ainda mais com o que acabara de presenciar, pois, no lugar do portão velho enferrujado, havia um portão novo, muito bem pintado, muito bonito. Dois seguranças estavam postos próximo ao portão controlando quem entrava. Uma grande fila se fazia na calçada. Mulheres e homens todos muito bem vestidos e sorridentes, e um a um entrava para aquela festa. A casa estava muito bem decorada, com luzes adornando todos os cantos. Via-se luz no interior da casa e ouvia-se a alegria dos que participavam da festa. Ninguém havia notado sua presença.

Saiu daquela rua as pressas sem saber o que acabara de presenciar. E aquela festa ainda o intriga até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário